Mais do que prevenção física, o movimento rosa é um convite à reconexão com o feminino. Na visão sistêmica, a psicóloga e terapeuta sistêmica Patrícia Naves Garcia explica como o autocuidado emocional impacta a saúde da mulher.
O Outubro Rosa costuma ser lembrado como o mês da prevenção e da importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. Mas a psicóloga e terapeuta sistêmica Patrícia Naves Garcia, CEO do Instituto Patrícia Naves Garcia (IPNG), em Uberlândia-MG, propõe ampliar essa conversa: e se o câncer também refletisse emoções reprimidas, dores não elaboradas e padrões familiares que se repetem? E se, olhar para essas questões fosse um componente importante do tratamento e da prevenção?
“Costumo dizer que as emoções represam, empedram, se calcificam e viram um problema físico. Tudo o que não é trabalhado pode se transformar em adoecimento”, afirma Patrícia Naves Garcia, que complementa afirmando que o estresse, ansiedade e a depressão estão na raiz da maior parte dos adoecimentos. “Já existe esse olhar para a somatização e é importante entender que o enfrentamento, a qualidade de vida e a regulação emocional são imprescindíveis para o tratamento dos pacientes com câncer de mama ou qualquer outro tipo de câncer”, explica.
Segundo a terapeuta, embora ainda faltem estudos científicos robustos sobre o câncer de mama sob a ótica sistêmica, já é consenso que o estresse emocional, a ansiedade e a depressão afetam o equilíbrio biológico e imunológico do corpo. “O estresse interfere no eixo HPA — hipotálamo, pituitária e adrenal —, alterando o cortisol e gerando inflamações que fragilizam o organismo”, explica.
O feminino que se perdeu no fazer
Pa͏ra͏ P͏at͏rí͏ci͏a
͏Na͏ve͏s
͏Ga͏rc͏ia͏,
͏o
͏es͏ti͏lo͏
d͏e
͏vi͏da͏
d͏as͏
m͏ul͏he͏re͏s
͏co͏nt͏em͏po͏râ͏ne͏as͏
t͏êm͏ c͏on͏tr͏ib͏uí͏do͏
p͏ar͏a
͏um͏
a͏fa͏st͏am͏en͏to͏
c͏re͏sc͏en͏te͏
d͏o
͏pr͏óp͏ri͏o
͏fe͏mi͏ni͏no͏.
“Vivemos͏
uma era͏
em
que ͏a
mulher͏
acumula͏
funções͏ — mãe,
͏profissi͏onal,
pr͏ovedora
͏—
e, nes͏se
ritmo͏, esquec͏e de
si
͏mesma. O͏
corpo, ͏então,
p͏assa a f͏alar
o
q͏ue a
alm͏a
cala. ͏Muitas
m͏ulheres
͏adoecem
͏porque
d͏eixaram
͏de se
ou͏vir”,
ob͏serva.
Ela ressalta que as dinâmicas familiares e as repetições entre gerações também merecem atenção: “Vemos famílias com mães, avós e filhas com o mesmo tipo de adoecimento. É um sintoma de que há algo sendo transmitido emocionalmente dentro daquele sistema”, pontua.
A Jornada da Heroína: o caminho de volta ao equilíbrio
Entre as várias ferramentas e conceitos, um dos mais usados no projeto Comunidade Feminina é a Jornada da Heroína, inspirada na obra de Maureen Murdock, discípula de Joseph Campbell, para trabalhar o processo de cura emocional e reconexão das mulheres.
A metodologia, desenvolvida no IPNG, propõe uma travessia por dez etapas, em que cada mulher identifica onde se encontra na própria história; da desconexão com o feminino ao reencontro com sua força interior.
“O sucesso, muitas vezes, é um sucesso fake. Ela chega ao topo, mas sente um vazio. É o chamado deserto da jornada; ou seja, o momento em que precisa parar e se reencontrar com o que realmente importa”, explica Patrícia Naves Garcia.
No IPNG,͏ esse pr͏ocesso é͏ vivenci͏ado em g͏rupos te͏rapêutic͏os, como͏ o proje͏to Comun͏idade Fe͏minina, ͏que prom͏ove uma ͏imersão ͏de dez s͏emanas. ͏“A cada ͏etapa, a͏s mulher͏es perce͏bem como͏ suas vi͏vências ͏impactam͏ corpo, ͏mente e ͏emoções,͏ e começ͏am a se ͏reorgani͏zar inte͏rnamente͏”, diz a͏ terapeu͏ta.
O próximo grupo do projeto Comunidade Feminina começará em novembro. Nele são utilizadas ferramentas específicas para que a pessoa identifique em que fase da jornada ela se encontra e perceba, ao longo do processo, todas as fases que ela atravessou, como atravessou e como isso pode impactar sua vida. “Temos exercícios específicos dentro de cada etapa. Já fizemos duas edições on-line, com encontros quinzenais.”
Cuidar de si é um ato de coragem
Neste Outubro Rosa, a psicóloga deixa um alerta que vai além da prevenção física: “Cuidem de si primeiro. Nosso lugar é de força. Se eu não estiver no meu lugar, eu vou adoecer. Para fortalecer o feminino, não é preciso enfraquecer o masculino, pois somos potências complementares.”
Ela reforça que o cuidado integral passa pelo que chama de “combo”: fé, medicina e terapia: “Tudo que chega ao corpo é reflexo de algo emocional. É preciso tratar as emoções, expressar o que se sente e buscar apoio. O corpo agradece quando a alma é ouvida.”
Sobre o Instituto Patrícia Naves Garcia (IPNG)
Com sede em Uberlândia (MG), o IPNG atua com formações e aperfeiçoamento de terapeutas, terapia sistêmica, grupos terapêuticos e desenvolvimento humano, promovendo jornadas de autoconhecimento e fortalecimento do feminino.