Você sabe o que é a Campylobacter? Sabia que seu hospedeiro preferido são as aves ou que nós podemos contraí-la se não tivermos os devidos cuidados? Não sabia? Pois agora vai ficar sabendo!
A dou͏toran͏da Pa͏ula F͏ernan͏da de͏ Souz͏a Bra͏ga, d͏a Fac͏uldad͏e de ͏Medic͏ina V͏eteri͏nária͏ da U͏niver͏sidad͏e Fed͏eral ͏de Ub͏erlân͏dia, ͏desen͏volve͏u uma͏ pesq͏uisa ͏com a͏ prop͏osta ͏do us͏o de ͏embri͏ões d͏e gal͏inhas͏ como͏ mode͏lo na͏s tes͏tagen͏s e e͏studo͏s sob͏re a ͏bacté͏ria C͏ampyl͏obact͏er. P͏arece͏ difí͏cil o͏ que ͏eu fa͏lei, ͏não é͏? Poi͏s se ͏prepa͏re qu͏e lá ͏vem c͏iênci͏a!
No geral, o procedimento acontece assim: primeiro é feita a inoculação, que é a introdução de um microorganismo em um outro organismo, humano ou animal. No nosso caso, a bactéria Campylobacter é inserida nos embriões de galinha. Mas antes, os ovos com os embriões são retirados da “chocadeira” e pesados pela primeira vez.
Em seguida, os ovos, doados por uma granja parceira, são pesados pela segunda vez para se obter o peso após a inoculação da Campylobacter. A cepa, um agrupamento desta bactéria, é monitorada até que se analise a maneira como ela se multiplica, ou seja, o nível de patogenicidade, as lesões que ela pode causar e a resposta imune que o embrião consegue ter.
Para
se ter ideia
da
dificuldade
do
procedimento,
no
dia
em que fomos
conhecer
a
pesquisa,
as
colaboradoras
comemoravam
o
“crescimento” da bactéria. Segundo explicaram
ao
Comunica Ciência, o
cultivo
da
cepa é
difícil,
pois
mesmo
após
a nutrição
da
bactéria,
nem
sempre sua
resposta
é positiva
à
indução.
Mas o verdadeiro problema é o tempo de uso dos embriões de galinha. Uma vez que eles são retirados da chocadeira, precisam ser utilizados com rapidez, o que nem sempre é possível, devido à instabilidade de crescimento da Campylobacter.
Mas ͏por ͏que ͏pesq͏uisa͏r a ͏Camp͏ylob͏acte͏r?
A Campylobacter é a primeira causa de gastroenterite no mundo, causando diarréia na maior parte dos casos. Mesmo não oferecendo perigo a pessoas saudáveis, a infecção profunda por Campylobacter em pessoas com baixa imunidade pode levar à síndrome de Guillain-Barré, condição em que o sistema imunológico ataca o sistema nervoso.
Segundo o Ministério da Saúde, mesmo sendo uma síndrome rara, a incidência por ano da Guillain-Barré no Brasil é de um em cada quatro casos por 100 mil habitantes. É uma doença que não tem cura, podendo prejudicar o sistema nervoso periférico, refletindo na mobilidade e controle muscular do portador, causando fraqueza, paralisia ou mesmo levando à morte.
Por que embriões de galinha como modelo para pesquisa?
Segundo a professora e orientadora do projeto, Belchiolina Beatriz Fonseca, da Famev/UFU, a utilização dos ovos se deu como alternativa para inserção de normas éticas nos testes. Até determinado estágio, a inoculação no embrião não causa dor nos animais, podendo ser feito procedimento sem sofrimento e estresse durante a manipulação.
Na pesquisa, que pode ser dividida em várias partes, já foram desenvolvidas e concluídas duas etapas. A primeira delas trata das testagens da bactéria nos embriões e nas reações a essas inserções — como descrito no início deste texto.
A segunda parte é o processo para a teranóstica, que é a junção da terapia e diagnóstico. Nesta fase, são investigadas formas de tratamentos e desenvolvimento de fármacos, além de melhorias nos diagnósticos. Também estão em pesquisa formas de controle e avaliação da capacidade de inibição da bactéria.
Referência Nacional
Financiad͏a pelo IN͏CT – TeraNano, sediado na UFU, a pesquisa do Ladoc com uso de embrião de galinha como modelo alternativo para testes é referência no país desde meados dos anos 2000.
O prêmio Lamas, pertencente à Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta), é conhecido pela divulgação das principais pesquisas desenvolvidas no Brasil no campo das ciências avícolas. Para as pesquisadoras, a premiação recebida neste ano, fomenta ainda mais a rede de trocas entre pesquisadores do mesmo campo, auxiliando, também, na ampliação dos estudos em cooperação com outros centros de pesquisas.
Segundo Paula Braga, a premiação é fruto da dedicação e de uma meta que o grupo de pesquisa estava mirando.“É muito bom saber que estamos produzindo trabalhos relevantes para a cadeia da avicultura. No ano anterior, conquistamos o terceiro lugar dessa premiação, e o primeiro lugar deste ano reforça que estamos no caminho certo”, diz a pós-graduanda.
De acordo com Bia Fonseca, o desenvolvimento de métodos de controle para a patogenicidade da Campylobacter, possibilita a melhora do processo de diagnóstico e o avanço na criação de medicações eficientes para o tratamento da população e prevenção do contágio.
Comunica UFU