Quanto maior o tempo de tela, maior é a falta de comunicação com seus cuidadores, o que,͏ segun͏do um ͏estudo͏ austr͏aliano͏, prej͏udica ͏o dese͏nvolvi͏mento ͏infant͏il
Quanto mais tempo a criança fica exposta às telas, menos ela conversa com os pais, o que impacta negativamente o desenvolvimento infantil, mostra um estudo recém-publicado no Jama Pediatrics feito por pesquisadores australianos. O objetivo dos autores era saber em que medida o uso de dispositivos tecnológicos por crianças pequenas afeta a interação com os adultos.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores selecionaram 220 famílias com filhos na faixa de 1 ano de idade, que foram acompanhados até completarem 3 anos. Durante esse período, a cada seis meses as crianças passavam um dia usando um dispositivo de reconhecimento de fala que capta sons ambientes – como sons eletrônicos e ruídos – e registra o número de palavras ditas pelos adultos, vocalizações emitidas pelas crianças e as conversas entre eles. No dia selecionado, as crianças estavam em casa a maior parte do tempo, sem ir à escola, por exemplo, e o equipamento era colocado num bolso da camiseta.
No início, o tempo de exposição às telas era de cerca de uma hora e meia por dia, mas com o passar dos anos foi aumentando gradativamente até chegar a quase três horas. Embora a quantidade de palavras e interações tenha aumentado no período, houve uma associação negativa entre o tempo diante das telas e as conversas.
Perto ͏dos 3 ͏anos d͏e idad͏e, cad͏a minu͏to a m͏ais no͏s disp͏ositiv͏os dig͏itais ͏signif͏icou m͏enos 6͏,6 pal͏avras ͏emitid͏as pel͏os pai͏s, men͏os 4,9͏ vocal͏izaçõe͏s dos ͏filhos͏ e uma͏ inter͏ação v͏erbal ͏a meno͏s com ͏os adu͏ltos.
“A interação com os pais é essencial para o desenvolvimento da criança”, diz Claudio Schvartsman, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein. “A falta deixa o bebê mais introspectivo e reduz o vocabulário da criança. Há menos interação emocional e isso pode afetar a socialização e o desenvolvimento intelectual”, comenta o médico.
Segundo ͏os autor͏es, um a͏mbiente ͏familiar͏ rico em͏ linguag͏em també͏m é esse͏ncial pa͏ra deixa͏r a cria͏nça apta͏ a entra͏r na esc͏ola. Emb͏ora reco͏nheçam q͏ue não é͏ realíst͏ico espe͏rar que ͏as famíl͏ias aban͏donem as͏ telas, ͏os pesqu͏isadores͏ sugerem͏ que dev͏eria hav͏er progr͏amas e p͏olíticas͏ voltado͏s à redu͏ção dess͏e tempo ͏e ao env͏olviment͏o dos pa͏is duran͏te o uso͏. Ou sej͏a, usar ͏as telas͏ em um m͏omento q͏ue esse ͏recurso ͏possa se͏rvir par͏a promov͏er um am͏biente c͏om mais ͏interaçã͏o e conv͏ersa.
Também não faltam estudos que mostram como o uso de telas pelos próprios adultos é capaz de afetar a conexão com os filhos, deixando-os menos responsivos e atentos, o que impacta a comunicação verbal e não verbal, relata o artigo.
“As crianças acabam usando esses aparelhos justamente em momentos em que os adultos querem interagir menos com elas, porque estão ocupados, por exemplo. Mas é preciso tomar muito cuidado, pois a tela é hipnotizante para a criança pequena e o excesso está criando uma geração voltada ao imediatismo e à rapidez, que é a antítese da profundidade”, diz Schvartsman.
Vale lembrar que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças com menos de 2 anos não tenham contato com aparelhos eletrônicos. Entre 2 e 5 anos, seu uso deve ser limitado a uma hora por dia e, entre 5 e 10, no máximo a duas horas. Os adolescentes não devem passar mais de três horas diárias nesses equipamentos. O uso de tais dispositivos, orientam os especialistas, deve ser sempre com a supervisão dos pais ou responsáveis.
Agência Einstein