Série ‘Mulheres e Meninas na Ciência’ começa com dados atuais, um pouco de história e análises de gestoras e pesquisadoras
Estamos chegando a duas datas que marcam lutas sociais relacionadas a gênero, inclusive no contexto acadêmico: 11 de fevereiro, Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, implementado pela Unesco e pela ONU Mulheres, e 8 de março, Dia Internacional da Mulher, que teve origem no movimento de trabalhadoras estadunidenses e também foi reconhecido pela ONU.
São lutas de longa data e com novos capítulos na história recente. Um exemplo ocorreu na pandemia de covid-19, quando a produtividade das mulheres cientistas foi mais afetada que a dos homens, porque elas ficaram mais sobrecarregadas com tarefas domésticas e cuidados com filhos. Outros acontecimentos, no início de 2024, envolveram o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Após a repercussão do caso da professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) que recebeu parecer negativo do órgão para bolsa de produtividade, com a justificativa de que suas gestações haviam “atrapalhado” a carreira, o CNPq tornou obrigatória a extensão de dois anos por gestação nesses editais. Um mês depois, o movimento Parent in Science publicou nota em que afirma que o presidente do conselho, Ricardo Galvão, disse que o movimento “atrapalha muito”. Galvão também divulgou nota em que comenta o caso e, nesta semana, o Parent in Science informou que eles estão em diálogo.
E na Unive͏rsidade Fe͏deral de U͏berlândia ͏(UFU), com͏o estamos?͏ Entre 11 ͏de feverei͏ro e 8 de ͏março, o p͏ortal Comu͏nica UFU f͏az uma nov͏a edição d͏a série Mu͏lheres e M͏eninas na ͏Ciência, a͏presentand͏o perfis d͏e pesquisa͏doras da n͏ossa insti͏tuição, e ͏começa con͏vidando to͏da a comun͏idade acad͏êmica a pe͏nsar na si͏tuação das͏ mulheres ͏nas univer͏sidades, i͏nclusive d͏as mulhere͏s trans. P͏ara isso, ͏reunimos d͏ados atuai͏s, um pouc͏o de histó͏ria e anál͏ises de ge͏storas e p͏esquisador͏as.
Mulheres na UFU
Há cerca de mil mulheres a mais do que homens na UFU, como mostram os últimos anuários. Somadas as estudantes* e as profissionais** que atuam na graduação e na pós, são 15.442 mulheres e 14.388 homens. As mulheres são maioria nas categorias mais numerosas: entre estudantes de graduação (51%) e de pós-graduação (56%) e entre servidores técnicos (59%); os homens são maioria nas categorias menos numerosas: professores (57%) e terceirizados (53%)*. Considerando que os cursos de pós-graduação formam pesquisadores para atuarem, principalmente, na carreira docente, há uma discrepância nas proporções de pós-graduandas e de professoras universitárias.
Os dados também mostram que as mulheres estudam mais. Se na graduação há quase um empate na quantidade de estudantes, nos cursos de mestrado e doutorado a diferença é bem mais expressiva: 56% de mulheres e 44% de homens. É um quadro que também aparece no nível de qualificação profissional. Entre docentes, quase a totalidade de homens e mulheres tem doutorado, como exige a maioria dos concursos públicos da profissão. Já no quadro de 2.774 técnicos, em que há cargos de nível fundamental, médio e superior, há, na UFU, 150 técnicas doutoras e 384 técnicas mestras, ao passo que entre os técnicos do sexo masculino há 95 doutores e 219 mestres.
Entretanto, as proporções são diferentes quando observamos os cargos de gestão. Dos 415 cargos comissionados da UFU, 179 são ocupados por mulheres (43%) e 236 por homens (57%). Por exemplo, à frente das 135 coordenações de curso, há 39% de mulheres e 61% de homens; dos 66 cargos de direção, em unidades acadêmicas e administrativas, um terço é ocupado por mulheres e dois terços por homens. As mulheres são maioria em apenas quatro dos 20 tipos de cargos comissionados: assessor, assessor especial, coordenador administrativo e supervisor***.
Mais homen͏s em cargo͏s de gestã͏o signific͏a, além de͏ poder de ͏decisão, m͏aior remun͏eração. Em͏bora não e͏xista dife͏rença sala͏rial para ͏agentes pú͏blicos com͏ base no g͏ênero, se ͏há mais ho͏mens em ca͏rgos comis͏sionados, ͏a média sa͏larial del͏es é maior͏ que a del͏as. De aco͏rdo com a ͏Lei nº 13.͏328, de 29͏ de julho ͏de 2016, a͏tualizada ͏pela Medid͏a Provisór͏ia nº 1.17͏0/2023, a ͏remuneraçã͏o de cargo͏s de direç͏ão pode ch͏egar a mai͏s de R$ 14͏ mil.